quinta-feira, 15 de julho de 2010

Carta nº 02

Estou escrevendo para dizer que a sua imagem ontem salpicou estrelas no meu olhar noturno e riscou um cometa de riso na minha face, o tempo não nubla esse amor que estampa o céu do meu coração. Semeou saudade no peito fazendo florescer lembranças na memória, saudade resistente a erva-daninha esquecimento, lembranças com galhos que não se podam. Borboletas rodopiaram inquietas no estômago, um frenesi no jardim que cultivo cá dentro. Uma alegria astuciosa inundou as ruas, vielas e avenidas do meu corpo. Choveu felicidade em mim. Tu compuseste um alegro com os versos monótonos do cotidiano, dedilhaste uma canção singular em meio à singeleza do meu dia.
A luz tremeluzente do Sol cor de ouro dançava serena no teu semblante moreno-pálido. O corado da tua face houvera desbotado. As nuvens de algodão seguiam incessantemente teus passos, desenhando teus pensamentos no céu. O céu azul claro traçado com linhas tênues de giz, e as nuvens avançavam. Avançavam como ondas incansáveis beijando a areia da praia. Ora as nuvens desenhavam minicertezas no céu, ora desenhavam maxicertezas. E eu desejando que elas tivessem desenhado um lago transbordando saudade.
Tinhas interrogações nos olhos e nenhuma exclamação. Teus olhos de Verão atravessavam a nudez do Outono. Uma espessa cortina amarelecida encobria o fogaréu de estrelas que iluminava teu olhar. Teu riso largo parecia esmiuçado entre os lábios. Caminhavas com passos trôpegos, cabisbaixo. Carregavas nos pés desejos desconstruídos. E nos ombros o peso de uma ausência. Entre as mãos tentavas esmagar o cansaço.
E antes que sua imagem se perdesse na multidão de outras imagens anônimas à memória, te olhei uma última vez, sem que me visses, e tatuei sua imagem no peito, o coração suspirou uma saudade leal, a memória marejou aquelas lembranças envelhecidas, e em silêncio eu disse 'adeus moço! Guardas um pouco de mim em ti' E soprei a poeira de uma miscelânea de recordações.

Com esmero da tua (e para sempre tua) amada.

P.S.: Que uma estrela cadente cruze teu olhar incendiando a nudez do Outono e acendendo um fogaréu de estrelas nos teus olhos.